quinta-feira, 9 de julho de 2020

Solidão Azul... (BVIW) - Crônica


Observo cada detalhe do antigo quarto, quase, vazio... O chão de tábuas largas deixa-se envolver pela poeira, e encostado à parede um guarda - roupa de mogno ainda com as portas abertas mantém alguns cabides vestidos com lembranças e teias.

No centro do quarto permanece em vigília em poltrona com entrelaçadas palhas (algumas soltas) lembrando um campo de dourados trigos, enquanto um sonhador vestido azul lhe faz companhia; imagino as conversas superficiais entre eles...

Ah, as tramas esmaecidas envolvem os contornos da poltrona como se fossem um abraço - uma pausa no tempo, adormecendo uma gota d’água antes de deslizar no vidro da janela. A solidão azul contida em cada detalhe do quarto faz-me refletir sobre esse sentimento tão intenso que em meus textos e telas têm cor, aroma e gosto com pinceladas espatuladas pela memória.

Quanto à poltrona permanece imóvel, sentindo os sussurros do vestido, lânguido, mas repleto de nostalgia do corpo nu que ele acariciava e aquecia.  A solidão faz minh'alma desnudar-se em tons de azul... fragmentado espelho.

Vanice Zimerman IWA
07/07/2020

https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6998799

Tema: Conversas Superficiais

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